As “Bruxas” Cervejeiras da Idade Média: Uma História Fermentada no Tempo
- Zenilson Magalhães
- 8 de jun.
- 2 min de leitura

1)uando você pensa em uma bruxa, qual imagem vem à cabeça? Talvez uma mulher de chapéu pontudo, mexendo uma poção em um caldeirão, rodeada por gatos e vassouras. Agora troque a poção por cerveja, o caldeirão por um barril de fermentação, e você vai entender por que essa figura misteriosa tem tudo a ver com a história da cerveja na Idade Média.
Mulheres e a Cerveja: Uma Tradição Milenar
Antes da produção de cerveja ser dominada por grandes cervejarias, ela era uma atividade doméstica. Durante séculos, quem fazia cerveja em casa eram as mulheres. Elas eram responsáveis por preparar a bebida tanto para o consumo da família quanto para vender na vizinhança. Era um ofício comum, transmitido de mãe para filha — uma verdadeira arte que exigia conhecimento sobre ingredientes, tempos de fermentação e armazenamento.
Essas mulheres eram conhecidas como alewives (ou "mulheres da cerveja") e tinham um papel central nas comunidades europeias, especialmente entre os séculos IX e XV. A cerveja, naquela época, não era só uma bebida recreativa: era mais segura que a água, que frequentemente estava contaminada, e era consumida por adultos e crianças.
Os Símbolos da “Bruxa” e a Cervejeira Medieval
É aqui que a história começa a ganhar contornos curiosos. Muitas das imagens que associamos às “bruxas” têm origem direta nas práticas das alewives:
Chapéu pontudo: As cervejeiras usavam chapéus altos para se destacarem nos mercados e chamarem atenção dos clientes.
Caldeirão: Usado para ferver o mosto, essencial na produção da cerveja.
Vassoura na porta: Um sinal de que havia cerveja fresca à venda na casa.
Gatos: Mantinham os grãos livres de ratos e eram companheiros comuns das alewives.
A imagem da bruxa que conhecemos hoje pode ter nascido de uma distorção dessas mulheres que, na verdade, estavam apenas produzindo e vendendo cerveja.
O Declínio das Cervejeiras
Com o passar do tempo, a produção de cerveja foi se tornando uma atividade mais lucrativa. A partir dos séculos XV e XVI, com a urbanização e o surgimento das primeiras grandes cervejarias, os homens começaram a dominar esse mercado. A produção caseira passou a ser vista com desconfiança, e muitas mulheres cervejeiras foram marginalizadas ou até perseguidas, principalmente em tempos de caça às bruxas.
Embora o papel da Inquisição e das questões religiosas tenham sido relevantes nesse processo, o que mais interessa para os amantes da cerveja é perceber como essa bebida nasceu das mãos das mulheres e como elas moldaram, literalmente, sua história.
Um Brinde ao Passado
Hoje, com o crescimento das microcervejarias e o retorno da produção artesanal, cada vez mais mulheres estão retomando seu lugar na cultura cervejeira. Mas é sempre bom lembrar: muito antes dos tanques de inox e dos rótulos criativos, havia uma mulher em sua casa, mexendo um caldeirão, criando uma cerveja que sustentaria sua família e sua comunidade.
Da próxima vez que você brindar com uma boa cerveja artesanal, pense naquelas que vieram antes — as alewives, as "bruxas", as verdadeiras pioneiras da arte de fazer cerveja.




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